Anjos.

Ele me chamou de anjo sem nunca ter visto as minhas pequenas asas brancas, eu considerei e sorri. Alguém que conhece cada sinal do meu corpo nunca teria sido tão atencioso a ponto de parar e observar, elas estão crescendo tão rápido, perdi a chance de fotografar. Mas ele viu, documentou e constatou que ficaria gravada a maciez de cada pena sem nunca ter tido a chance de toca-las, sem me enrolar disse que ainda que as asas fossem um dia cortadas, de alguma forma eu não deixaria de voar, falou algo sobre a minha beleza. Eu estive por tanto tempo a procura de quem me olhasse sem a malícia que o mundo oferece, mas essa que eu encontrei na voz dele me chamou atenção de uma maneira estranha, curiosidade em saber mais sobre o dono de tal gentileza, talvez. Mas estou acompanhada,eu falei. E ele ignorou da mesma maneira com a qual eu tinha ignorado-o antes de ver em mim um anjo. Ele não se importa, também esta acompanhado e isso nunca o impediu. Ele a amava, mas não perderia a chance de tocar em um anjo, foi o máximo que consegui compreender do teu olhar antes que algo me invadisse a boca, tinha gosto de desejo, gosto de pecado. Era bom, mas não existia amor, não existia cuidado, era um devorador de carne, de anjos. Eu, como anjo me arrependi de procurar em outros o que o meu semi anjo não tinha. Ele nunca reparou as minhas asas, e mesmo tendo visto varias vezes não sabe sobre todos os meus sinais, ele nunca falou sobre a parte bela que existe em mim, nunca usou as palavras pra falar sobre a minha importância ou sobre o seu amor, também nunca me viu como carne, apenas. No meu semi anjo, apenas nele eu encontro paz, só no olhar dele eu encontrei o desejo de cuidar, proteger... e não importa por quantas vezes ele tenha ficado louco de desejo, ele sempre me tocou com tanta delicadeza que eu simplesmente esquecia o resto, o mundo parece se desfazer quando os seus olhos encontram o meu com tanto amor. Isso apenas o meu semi anjo sabe.