17.8.12

Russo e rústico.



Sentei na calçada do outro lado da sua casa
Bem no centro da cidade.
Onde as esquinas são sujas
E o resto, em sua maioria, também
A visão não me era ruim embora os óculos
Estivessem sujos da sua lama
Embora as pessoas desfilassem perdidas
Em suas próprias existências* a minha frente
A visão não era ruim, eu disse.
Fiquei do lado de dentro de mim
vacilando os pensamentos
Muito compenetrada pra ser quem era*
Esperando que você abrisse a porta
E fosse aonde acha que te levará a algum lugar
Aquele que te força a vestir roupas sociais e
Parecer igual ás outras massas do lado de fora
Desfilando em sua existência cheia de significado
Qualquer coisa não me diria nada.

Aquele comportamento que eu tinha analisado
Aquelas marcas que eu tinha observado
Os escritores que eu tinha estudado
Aquelas perguntas que eu tinha questionado
Aquela ignorância que me tinha aborrecido
Aquele sorriso que me tinha angustiado
As mãos quentes
A boca que eu tinha provado
Então você atravessou a rua
Sem paciência alguma de lhe darem espaço
Exatamente como sei que é
E se despiu pra mim.
Me permitindo um monte de espaço em ti.
Desmontou suas máscaras
E eu nem pedi.
Depois de ontem seu silêncio, ou mais
Suas palavras, não são mistérios pra mim.
E eu? Gosto dessa confiança que deposita em mim.



Mas não vi teus olhos,
Os mesmos que rodavam confiantes e alegres
 Aquela sala cheia
 Onde não percebi ninguém além de nós.
Dormi na agonia de ler aquele olhar que não silencia
E também não me diz nada.
Eu sei que gosto do desafio de te aproximar
Sei que gosto de encontrar palavra mais ofensiva que as suas
E depois me calar.
Somos auto-suficientes pra esperar e superar.
Já tinha eu, tão pequena, te visto falar de amor.
Já tinha eu, ainda menor, te visto gostar de mim.
Que fazia eu, desapropriada, na calçada estudando
O movimento circular dos teus olhos
Naquela sala agora não tão vazia?
Você aparecia, todos os dias
De forma oculta e muito dita pra mim.
Não podia ser daqui.

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