20.5.12

Silêncio em três partes.

Era noite outra vez. Os cômodos todos cobertos de silêncio, na noite passada o silêncio era dividido em três partes.
A parte óbvia era a quietude de uma sala antiga e vazia, oca e repleta de ecos feita pelas coisas que falavam.
Se houvesse uma multidão, ou pelo menos um companheiro com um punhado de amores por mim, eles encheriam o silêncio de conversas e risos, do burburinho e clamor esperados de uma casa em que se bebe na madrugada de poucas noites. Se houvesse vento, ele sussurraria por entre as árvores e eu sentiria frio. Faria pousada naquela noite, agitando o filtro dos sonhos e sopraria o silêncio pra fora.
Se houvesse música...Mas é claro que não havia música, multidão e amor. Por isso silêncio persistia.
Mais adiante, dois homens se encolhiam dentro do bar de uma beira de estrada qualquer, provavelmente. Um deles bebia com serena determinação, enquanto o outro, mais devagar, evitada discussões sérias sobre politicagem. Com isso eles acrescentavam silêncio pequeno, acomodado e mais oco.
Ele formava uma espécie de amálgama.
O terceiro silêncio quase não pude notar. Estava no lento vaivém de uma toalha de linho de cor amarelada. E estava nas mãos do homem postado atrás do bar.
O homem tinha cabelos negros de verdade, olhos escuros e distantes. E se movia com segurança, como se conhecesse muitas coisas.
Era dele o terceiro silêncio.
E era apropriado que assim fosse, pois o terceiro era o maior dos três, englobando os outros dentro de si. Quieto e solitário como o fim do outono.
Pesado e antigo como um pedregulho alisado pelo mar.
Era o som paciente, do homem que espera a morte.

4 comentários:

Gostou?